sábado, 29 de outubro de 2011

Realidade Mundana

Há mais coisas entre o céu e a terra, Horário, do que sonha a tua filosofia. 
— William Shakespeare, Hamlet

Agora que você viu como todas as coisas fazem parte do todo, entenderá porque eu comecei sua jornada mostrando-lhe o mundo que você pensa já conhecer. Olhe a cidade ao seu redor: as ruas seguindo padrões interrompidos, como teias de aranha, entupidas com resíduos e girando ao redor de prédios inacreditavelmente altos, decorados com gárgulas e brilhando com milhares de luzes. O brilho da cidade ofusca as velas do céu, como se elas quase estivessem encobertas por um véu de trevas. Mesmo que desligássemos todas as luzes, os gases asfixiantes dos carros e das indústrias serviriam para fazer o mesmo.


Olhe para a mulher andando apressadamente pela rua. Ela se agarra à bolsa e ajeita o casaco como se eles fossem talismãs protetores. Ela está certa ao estar com medo; há muitas coisas terríveis soltas na cidade à noite. A maioria delas existe durante o dia também, mas então nós fingimos ser mais fortes e menos medrosos; é fácil ver algo amedrontador à distância e fugirmos antes de estarmos face a face com ele. Você vê os miseráveis amontoados ao redor da fogueira que fizeram naquele beco? Alguns deles matam seus medos e dores com vinho barato e crack; outros estão muito espancados ou loucos para se importarem. 

Ah, aí vem um carro da polícia. Seus faróis iluminam a mulher por um momento, e ela hesita, como se fosse uma gazela sob a mira de um caçador. Os rostos dos policiais dentro do carro são duros e inflexíveis. Eles ficaram muito tempo num emprego que eles não aguentam mais, tornando-se cínicos e violentos com aqueles que antes procuravam controlar. O carro vir a para entrar no beco, e os homens fogem para longe do fogo. Talvez eles estejam envolvidos com um crime, talvez não. Não importa. Certamente seriam acusados de algo
se fossem pegos. Venha,  ande comigo ate o clube no f inal  da rua. Você pode ouvir a música pesada daqui. Os jovens que esperam para entrar instintivamente sentem as trevas ao seu redor e abraçam-na em seu modo de vestir  e agir .  Eles não fogem do medo, mas procuram incorporá-lo, vestindo suas roupas pretas  e tentando superar-se uns aos outros. Eles procuram entender enquanto fingem não ligar. Eles ouvem, e observam, e alguns poucos Despertam. Vamos deixar a parte mais miserável da cidade e dar uma olhada nos edifícios do governo e nos apartamentos enormes dos ricos. Aqui, um edifício de fachada espelhada reflete misteriosamente num outro, numa infinidade de auto-imagens distorcidas, Nesse ponto, eles são muito parecidos com os que vivem e trabalham dentro deles: cada um parado num isolamento silencioso, indiferente. Para todos os seus habitantes, eles não são monumentos da racionalidade e das realizações da raça humana, mas da nossa avareza e do nosso orgulho amargo.


Até o interior foi devastado.  Onde antes  havia  enormes florestas antigas,  explodindo em energia  e cheias decantos  de passaros, existem apenas alguns  pinheiros  mirrados,   plantados  para  Impedir que o solo desmorone de uma vez.  Minas  de superficie criam rasgos na terra, aplainando morros e destruindo montanhas. Esgoto não-tratado jorra de canos quebrados  diretamente no mar.  Agora, o mar devolve o veneno para nós na forma de moluscos tóxicos e chuva ácida.  As pessoas estão com medo, amedrontadas pelos governos, corporações e outros criminosos mais honestos. Eles temem o desconhecido e o estranho. O que já conhecem é suficientemente ruim; eles se recusam a encarar o que pode ser ainda pior. Esse e o sonho da Tecnocracia, este mundo estéril ,  sem vida e sem alma, que eles dizem ter criado para que as pessoas estives sem seguras e livres. Isso é o que os Adormecidos vêem. Apesar disso tudo, há um esplendor f as ci na nt e no nosso mundo, um canto de sereia que nos faz  procurar esperança e bondade nas cidades e campos corrompidos. E os Adormecidos também vêem  isso. Alguns deles não desistiram, e nós das Tradições esperamos alcançálos.

Alguns se tornam nossos acólitos, defendendo-nos e ajudandonos enquanto lutam para Despertar. Como tais pessoas  ainda acreditam, nós ainda podemos mudar a realidade de maneiras sutis, tecendo novos padrões na Trama e revivendo os padrões antigos. Mesmo eles não podem ver tudo o que vemos, apesar de tentarem
entender. A maior parte dos Adormecidos, deslumbrados pelas promessas de um amanhã melhor através da ciência, ainda  não aprenderam a ol har  a verdade, focalizando-a através de olhos Despertos.

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