quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Fome

Viver como um vampiro é viver com horror. Como o corvo de um feiticeiro, temos sempre a consciência da Fome pousada sobre os nossos ombros. E sempre, sempre, ela se aproxima às vezes lenta e sorrateiramente, às vezes avassaladora, mas sempre com voracidade. A Fome jamais pode ser saciada. Chamamos-na de Fome, mas... o termo é terrivelmente inadequado. Os mortais conhecem a fome, e até mesmo a inanição, mas nada disso se compara ao que sentimos. A Fome substitui quase todas as necessidades,quase todos os impulsos conhecidos pelos viventes comida, bebida, reprodução, ambição, segurança e é mais compulsiva que todos eles juntos. Mais do que um impulso, é como uma droga da qual somos dependentes desde o nascimento. Um vício incurável. Na ingestão de sangue não reside apenas a nossa sobrevivência, mas um prazer indescritível. A Fome é um êxtase físico, mental e espiritual que ofusca todos os prazeres da vida mortal. Ser um vampiro é ser prisioneiro da Fome. Só se pode subjugar a Besta pela mais extraordinária força de vontade; porém, negar a Fome enfurece ainda mais a Besta, até que nada possa mantê-la reprimida. Portanto precisamos cometer atos monstruosos para impedir que nos tornemos monstros  eis o nosso Enigma: Comportamo-nos como monstros, para que em verdadeiros monstros não nos tornemos. Esse paradoxo rege nossas vidas. Esta é a maldição da minha vida.

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